O despertador começou a tocar, baixinho, uma música da sua adolescência, dos Pearl Jam. Era uma estação de clássicos, e esta já estava na lista das músicas vintage. Fantástico… Esta não era a sua cama, nem o seu quarto, e nunca ia meter umas cortinas daquela cor aborrecida, pensou Madalena, enquanto olhava para o gato laranja deitado em cima da sua barriga que a observava como se ela fosse uma peça habitual da casa. Saíra do trabalho no dia anterior aborrecida com a chefe e pronta a mandar tudo pelos ares, mas a engolir o sapo porque precisava do ordenado. Passou pelo supermercado, quase automaticamente, para apanhar os ovos que estavam em falta, e também pão e, quem sabe, umas massas frescas para fazer ao jantar. Simples, com mozzarella, pancetta, folhas frescas de manjericão, como faziam naqueles restaurantes pequenos perdidos no meio da Toscana. Porque é que estavam com promoção dos produtos italianos? Que nervos! Em casa, sentada no banco da cozinha, a olhar para as imagens nas etiquetas dos produtos, decidiu-se. Não, não se decidiu coisa nenhuma. Na verdade, nem teve consciência de meter na mala meia dúzia de peças de roupa, os documentos, os três primeiros livros da pilha em cima da mesa de cabeceira (ou outros vão ter de ficar para depois, pediu desculpa mentalmente), fechou bem as janelas, olhou em volta, calçou-se e saiu porta fora. Meio minuto antes de desligar o telemóvel, sentada no avião com direcção a Génova, enviou uma mensagem à Patrícia a mandá-la fazer o relatório sozinha, mas com palavras menos simpáticas. Acordou na manhã seguinte no airbnb onde ficara, e saiu para ir tomar o seu primeiro pequeno-almoço verdadeiramente italiano. Com uma bota de cada cor, reparou quando as calçou, mas que se lixe, estava numa aventura!
Porque a fanfiction existe. E a vida real também é um estalo do caraças quando temos várias pessoas a morar na nossa cabeça!
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