quinta-feira, 16 de abril de 2015

Teoria dos Relacionamentos num call center perto de si.


Aqui há uma regra interessante: para não prejudicar o ambiente laboral, e é compreensível, não se pode ter relacionamentos com colegas de trabalho.

Quando isto, inevitavelmente, sucede (ó meu deus, parece que engoli um dicionário!), os respectivos colegas são colocados em postos ou horários distintos, e incentiva-se  a não comunicação entre as partes.

A outra hipótese, e também mais utilizada, é despedir um deles, e cortar o mal pela raiz.

Também há duas tábuas de medir. 

No caso óbvio do nosso departamento, os alguns elementos, além de trabalharem juntos no mesmo piso e a um máximo de 3 metros um do outro, utilizam o telefone da casa para passar recadinhos entre um e outro e combinar coisas pessoais, além de meter outros elementos na conversa, o que, às tantas, faz aquele escritório parecer mais a sala lá de casa ("então, vamos ali a taberna petiscar e beber umas cervejas e ver o jogo de futebol e o rescaldo, apesar de alguns de nós estarem em horário de trabalho?") e nós não sabemos o que é que estamos ali a fazer, porque nos sentimos, vá, um bocado a mais, e menos num escritório de Call Center onde, supostamente, se trabalha.

Já de outros tipos de relacionamento, em locais como este, é de bom tom não se falar de todo, especialmente se um ou mais dos elementos são casados com outra pessoa que não aquela, e mesmo que algum colega os veja um pouco mais íntimos no elevador ou na casa de banho do lado menos usado do open space...

E depois venham precisamente com ideias fofinhas para o dia dos namorados, tipo, t-shirt vermelha se estás comprometido, amarela se assim assim e vermelha se não disponível, exibindo orgulhosamente t-shirts vermelhas e um balãozinho atado no braço. 

Nesse dia, o grosso da equipa de Portugal mandou estas teorias às de vilas diogo e veio quase tudo de preto ou azul, menos a miúda fashion da Figueira, que veio fofa e fashion e super fixe, como vinha todos os dias, claro.

Terá sido mais um prego na jangada que nos afundou naquele local e fez o chefe querer abrir antes um escritório em Lisboa. 

A hipótese de ele querer estar mais perto das praias de Cascais é outra teoria, já que Madrid não fica assim tão perto das praias de Cascais.

De também referir que as regras da casa, no papel que temos de assinar, nos dizem que não se pode utilizar o telefone do trabalho por motivos pessoais, mas isso, provavelmente, depende do ponto de vista, e telefonar para os pais idosos que estão a mais de 300 kms de distância ou para os filhos pequenos que ficaram sem o pai ou a mãe no fim de semana e já não o ou a vão ver, porque sai tarde, e eles tem de se deitar cedo porque há escolinha no dia seguinte, é considerado delito grave e motivo para chamada de atenção da parte do superior mais próximo, mas telefonar para a mãe a sabe se o bóbi cagou, ou combinar saídas com colegas dentro do trabalho, amigos de fora do trabalho ou até mesmo o namorado supervisor, já é cordialmente aceite (olha, pimbas, dicionário, outra vez!), quando mais não seja porque o supervisor até é amigo do nosso superior mais próximo e o dito superior até poderá ser convidado para a tal patuscada!

É como o nosso sistema de integridade social: a corrupção até é tolerada,  mas ir para a net expor verdades do governo, ui, isso é que já não, é uma coisa perigosíssima, não podemos admitir numa sociedade actual como a nossa, vamos já enviar a PJ atrás para apanhar os meliantes e apagar todos os registos!


2.13

sexta-feira, 3 de abril de 2015

Fisgas Baguete, o pseudo hippie, baldas ou qualquer coisa assim do género.


O Fisgas Baguete. aparentemente, era especialista licenciado em temperamento zen mas, em termos práticos, e pelo que a mim parecia, uma das pessoas que conheci que fervia em menos água, sendo as outras o Cromagnon e o Maligno, uma vez que já quase que se ferraram à pantufadita ali em frente dos colegas, supervisores e os clientes do outro lado da linha, mas não sei, se calhar vejo coisas a mais. 

Às vezes também oferecia bolo e era perfeitamente cordial, pelo que uma pessoa fica confusa. 

Volta e meia, fazia a sua borradita, e levantava o garimpo ao colega mais próximo que dissesse "piu", além de que tinha o aborrecido hábito de se meter à coca das calinadas dos colegas para ir fazer queixa à supervisão, o que não é uma das nossas funções no trabalho. nas costas dos ditos colegas, por mail com cópia também ao colega visado, que era um bocado apanhado de surpresa.

Apreciava folgas, férias e baldas, gozando as suas horas livres com um rigor britânico que não possuia para a hora de entrada.

Tinha o hábito de fazer partidas parvas aos colegas (mas mesmo muito parvas, daquelas que só têm piada para ele), do género dizer que não sei quem tinha feito reclamação, ou que tinha mandado o reboque de Lisboa para uma assistência mas na Odivelas do Alentejo e que o director ali do andar estava muito aborrecido à sua procura porque tinha gasto uma batelada de dinheiro à companhia, mas deixou de se esticar com esta que vos escreve, por mor de ter, uma ocasião, visto o Demo em forma de Baldomero.

(O Baldomero é uma das pessoas que vive na minha cabeça).

Não se livrou precisamente esta que vos escreve da bela conversa com a supervisora responsável, depois do devido mail a fazer queixinhas, endereçado quando a criatura se recompôs, no dia seguinte mas, pelo menos, sossegaram-lhe as parvoíces!

Já não se encontra no seio da equipa, mas também nunca escondeu o seu intenso desejo de ver aquilo pelas costas, uma vez que, assumidamente, não via qualquer futuro naquela profissão, e o seu objectivo era divertir-se um pouco, conhecer pessoas, e ganhar uns trocos para viajar, que foi o que ele fez assim que pôde. 

Mais esperto que todos nós, afinal, menos na escolha do país. 

Tivesse ele decidido fazer isto na Holanda ou na Bélgica, ainda chegava ao fim do mês com algo que poupar, agora aqui, só valia mesmo pela experiência de vida...


2.12