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O que se traduz, em termos práticos, por "Momentos de pausa" no trabalho.


O nosso horário de trabalho é de 8 horas, mais uma para a refeição e, inicialmente, vinha com direito a 20 minutos de pausa de manhã e outros 20 à tarde, facultativos e não acumuláveis.

Em termos práticos, se não fazem os vossos 20 minutos de pausa, ficam a arder com eles.

Os 20 minutos de manhã e de tarde, eventualmente, um belo dia, e sem que ninguém (da massa trabalhadora daquele departamento, pelo menos) soubesse, foram reduzidos para 10 minutos a disfrutar em qualquer momento da nossa preferência, no dia todo, tendo em conta que estamos as ditas 8 horas a olhar para um pc (só neste ano e meio que ali andei, aumentei uma dioptria e meia, imaginem a qualidade daquele sistema informático!) e com chamadas non stop.

Há que referir que a hora de almoço supostamente calha algures pelo meio, dependendo da nossa preferência ou se houve consenso entre a organização da mesma, a cargo da responsabilidade e da falta dela de quem não a tem entre os colegas da assistência, em vez de ser organizada pela supervisão, ou por um coordenador responsável, para não se dar hipótese de haver desunião e discussões na equipa, apesar de ser também um espectáculo divertido.

Depende dos gostos, claro!

Num outro call center onde trabalhei, enfim, também éramos menos, a nossa coordenadora de grupo era um bocado general, uma líder de tropas organizadíssima e muito justa: chegava lá, apresentava as coisas, explicava porquê, nós percebíamos a lógica, concordávamos, e havia harmonia na família.

Fez dois turnos: os que iam almoçar às 13h e os que iam almoças às 14h. A partir daí, quem almoçava mais cedo, fazia pausa mais cedo, e quem almoçava mais tarde, fazia pausa mais tarde. Esta semana estava metade da equipa com o turno das 13h, e na semana seguinte trocava-se.

Simples e lógico.

(Também deu nas orelhas a uma colega que chegava antes da hora e começava a responder a mails nas costas dos colegas para depois ter mais pontuação, porque era injusto para com os colegas. Uma coisa é andar a laurear a pevide no horário de trabalho e ter menos rendimento, outra é aumentar a estatística nas costas dos outros "competidores". Mas foi um valente raspanete!)

Aqui, é mais no género "Vou às 13h porque já combinei com não sei quem, não me interessa que o outro colega tenha chegado às 8h e ainda nem tenha feito pausa", ou "vou jantar às 20h porque estou farto de estar aqui e vai jogar o Torreense, quero lá saber que o outro colega de turno tenha de ir jantar às 21h para depois sair às 23h".

E sem ninguém controlar, a não ser o próprio discernimento. Estão a ver a coisa?

Chegou-se a apresentar esta experiência à nossa superior directa, mas não foi aceite, optaram antes por confiar na orientação (e na falta dele...) da equipa para se organizar com as horas de almoço e de jantar...

O mesmo se passou com o pedido de verificar a legalidade dos 10 minutos para 8 horas de trabalho com o nosso departamento de Recursos Humanos (sei lá, eles devem perceber destas coisas, não?...), que foram respondidos com um abanar de cabeça e um "não é possível, mas tu podes, que estas grávida".

Pois, podia, mas não era desculpa, estamos todos ali as 8 horas a olhar para a aventesma do ecrã, mas passei a trazer fruta e biscoitos para o meu posto, outra ilegalidade, mas o facto é que ir até ao outro andar e passar pelo novo sistema em que temos de meter o dedo no leitor para abrir as portas e aquilo nem sempre funciona, e ainda voltar, só dá para comer um iogurte, e à pressa, pelo que a grávida quer la saber de ilegalidades, se a criança pede comida a cada duas horas, a grávida enfarda dois pêssegos ou meia dúzia de bolachas Maria a cada duas horas no posto de trabalho e a mandar um reboque para a estrada!


2.8

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