Aviso à navegação que ainda aqui anda perdida em 2025:
Andava para aqui em arrumações e percebi que a Odisseia do Tacho, que tinha estreado no blog em 2006 (a primeira blog-novela, mas não a última, porque fiz mais outras…) e que ficou arrumada em 2009, quando o desliguei (requiescat in pace), ainda não estava na sua totalidade aqui, no blog ressuscitado.
Assim, para variar um bocado destas destas ideias doidas que me passam pela cabeça no meio do Inverno, vou meter aqui os restantes episódios (em suaves prestações), sem edições, acrescentos, alterações ou actualizações à época em que vivemos, uma coisa que podemos considerar “vintage”, ou “isto agora era tudo censurado” (muito, mas mesmo muito provavelmente), ou “nesta altura eu não tinha filhos, e muito menos juízo” (espera, também ainda não tenho juízo).
Nesta altura, também tinham muito mais tempo para escrever, porque levava com umas quantas horas de CP do Cartaxo (essa metrópole alcoólica) para Lisboa (basicamente turistas e imperiais) e vice-versa, mais um mini-autocarro cheio de pensionistas animadas e à beira da morte e cheias de enfermidades ao mesmo tempo, de Santa Apolónia para a Graça e vice-versa, e agora, valha-nos Deus, ando com o caderno cheio de post-its amarelos lá do trabalho e escrevo enquanto estou à espera que acabe a aula de natação ou um evento qualquer da agitada vida social dos meus filhos (muito mais borbulhante que a minha).
Por isso, considerem-se avisados, e divirtam-se!
Afinal, talvez tenham de levar com histórias mais desorientadas da caixa dos parafusos do que o habitual, mas é o que temos.
CAPÍTULO 6 – QUEM MORA AO LADO
Noite de Lua Cheia na Cadriceira.
Ao longe, ouve-se o uivo solitário de um cão vadio.
O edifício da Sociedade Recreativa flutua na escuridão...
...sim, depois de varrerem uma tachada de pipis feita pela mão habilidosa do Índio George (...pois...), acompanhada de pão caseiro quente a sair do forno e umas imperiais frescas à maneira, a malta pesada da Cadriceira aproveitou este momento de calmaria para ver o filme “I’ll see you in my dreams”, trazido pelo Cláudio, o gótico, irmão da Joaninha das Autópsias, um rapaz magricela, que usa aquelas calças pretas esterlicadas, vive de noite e pensa que é vampiro. A sua carapinha acentuadamente MarcoPauliana é que não é da mesma opinião, infelizmente...
Ora estava já toda a gente assim meio acagaçada e atenta ao mínimo ruído ou movimento, que se tornavam mais evidentes com os singelos cálices de Vinho do Porto que já tinham entrado nos organismos, quando o Índio George aproveita para ir com o Ricardão da oficina, que come tudo o que mexe, é uma fatalidade, enroscar-se carinhosamente para o wc de serviço.
Eis senão quando vêm os dois a correr lá de dentro, esbaforidos e de calças na mão, perseguidos por uma criatura negra de olhos brilhantes a alta velocidade e a grunhir de forma furiosa... era Eusébio, o suíno Triturador-Aspirador, que fugiu de forma misteriosa da sua barraca no quintal dos pais do guarda Arnaldo, onde estava a ser vigorosamente engordado para uma valente patuscada, e que provoca um monumental cagaço em quem estava na sombria sala da Sociedade Recreativa...
Completamente transtornado, a fugir do edifício pela porta principal a correr à frente da D. Adélia como se tivesse o Encapuçado da Gadanha atrás dele de patins em linha, o Bruno do Talho vomita mesmo em cima dos pés do Júlio Cangalheiro, que ia a entrar acompanhado da Tatiana, da Irina e da Neide Elizete.
O Xavi Fuentes, que mora perto e que já vê tudo a andar à roda, opta por se dirigir a casa na posição “de gatas pela calçada abaixo”.
O guarda Arnaldo, sempre composto, não revela o mínimo indício de estar na fase mais próxima do coma alcoólico.
O pensionista do andarilho ainda andou agarrado ao Índio George, porque entretanto já tinha perdido o andarilho. Quem o arrecadou foi o Ricardão, porque acha que aquilo ainda pode dar jeito para o arranjo do SLK da D. Adélia, que ele lá tem na oficina com a buzina enguiçada.
Bem, para dizer a verdade, o resto do pessoal ficou a recuperar forças encostado ao balcão, ou a um dos pinheiros em redor da Sociedade Recreativa, enquanto o Eusébio se enroscou finalmente para uma soneca ao pé das grades de Sagres, escuro como uma sombra, e perfeitamente camuflado naquele canto.
Já cá fora, o R.J., o Fanhoso, com o fresco da noite, tem a brilhante ideia de ir cantar uma serenata à janela da Odete Maria, e logo ali foi acompanhado pelo Cláudio, o Índio George, o António Luís, o guarda Arnaldo, o pensionista do andarilho, o espanhol, o Bruno, todos atestados de imperial, amêndoa amarga, brandymel e sabe-se lá mais o quê, que acharam esta a melhor ideia desde os soutiens com almofadinhas.
Ao som de “Uptown Girl” em tons algo desordenados, a D. Adélia acerca-se à varanda, deslumbrada, convencida que, desta vez, o Bruno é seu... porque os nossos amigos se enganaram e, em vez de ir para a frente da casa da musa do R.J., branca com cortinas azuis e vasos de sardinheiras coloridas na varanda, dirigem-se resolutos para a casa da D. Adélia, um mamarracho com azulejos de casa de banho verde fundo de garrafão, típicos dos anos 60, do lado oposto da rua...
Farto de tanta emoção contrariada e de tanta energia gasta em equívocos – e ajudado por uns quantos graus de Brandymel no sangue, o pensionista, mandando a busca do andarilho às de vila-diogo, encurrala a D. Adélia (agora numa perseguição ainda mais cerrada ao Bruno do Talho) naquela viela ao pé do centro de Saúde, e beija-a o mais loucamente que lhe permite a sua dentadura solta!
E acaba-se o assunto por aqui!! Irra!!
(Semana 3 de 2025)
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