Domingo à tarde no campo da bola da Cadriceira, que se situa mesmo ao lado da Sociedade Recreativa. De terra batida, com umas fitas de “Crime scene – do not cross”, desviadas de algum lado pelo guarda Arnaldo, de forma pouco legal, à volta, para limitar o espaço de acção do público, o campo da bola da Cadriceira era palco, além dos jogos de futebol, de garraiadas, largadas de vacas bravas, arraiais, bebedeiras, strips gratuitos interpretados pelo Valentim depois de passar por um qualquer lugar que vendesse álcool, ou depois de comer meia dúzia de Mon Cherries (sim, porque ao Valentim bastava pouco para o levar à loucura), enrolanços da Giséla Sóraia, engates do Índio George e outras coisas afins...
Hoje à tarde, porém, procedia-se àquilo para que era suposto servir o campo – a um jogo de futebol. Desta feita, opunham-se o SCUC – Sport Clube União da Cadriceira – e o FCO – Futebol Clube da Ordasqueira.
A multidão rodeava já a empoeirada cena de acção – uns debaixo das árvores, outros com guarda-sóis, outros com uma garrafita para acalmar o pó na garganta, os jogadores aqueciam, o árbitro saía detrás da roulote onde estivera com a Giséla Sóraia, sacudindo o pó da batina e ajeitando o colarinho... Notava-se de forma flagrante a falta da D. Adélia (de lua de mel com o Adérito, nas Maldivas, no mesmo hotel que o Tom Cruise e a Katie Holmes, que casada não é morta...).
O alinhamento da equipa da casa era, como habitualmente, o Óscar, o Padeiro, o Índio George na retaguarda (pois…), o Bruno do Talho, o guarda Arnaldo, R.J., o Fanhoso, o Valentim, ponta de lança, Mister, apara-relva, Director Desportivo, Director da SAD, Tesoureiro do clube e técnico de higiene dos balneários, o António Luís, exímio com o pé esquerdo, mas uma nódoa com o direito, razão pela qual nunca lhe era passado o esférico, o Cláudio, o gótico, irmão da Joaninha e do Valentim, o Xavi Fuentes, que exerce também a função de corrector de apostas e de caloteiro em geral, o Abílio da roulote das bifanas (com mesa de mistura, bola de espelhos e show de Miss T-shirt molhada), o rei da noites da Cadriceira, primo da Giséla Sóraia, que na hora do jogo assegura o funcionamento do negócio, aviando couratos e minis aos embasbacados que se babam para as bifanas e para o seu decote, e, por falta de pessoal válido, o guarda Januário, pai do guarda Arnaldo e agente da ordem na reforma, a assegurar a defesa das traves da equipa. Regra geral, acompanhado de uma Kalashnikov do mercado negro e de uma bazuca aperfeiçoada por ele próprio…
Já a equipa vinda da Ordasqueira na Vanette caquéctica da Sociedade Filarmónica, era composta por: Argolas, Gaspar, Petarda, Frufru, Pirolito, Franquelim, Zé Manel, Boi, Ginjas, Faneca e Maria Otília na baliza, derivado de na aldeia não existir mais nenhum homem com capacidade de se aguentar nas duas pernas sem o apoio de uma bengala, andarilho ou açaime.
...e o Padre era o árbitro, pois quem mais imparcial do que o representante de Deus na Terra…
… apesar de estar distraído como decote da Giséla Sóraia e com a mini-saia da Débora (que, apesar de até há bem pouco tempo ter sido gajo, tinha uns presuntos como deve ser) e de ter deixado escapar mais faltas neste jogo do que o Olegário Benquerança para aí na primeira parte do Benfica-Porto…
Mas, infelizmente, como isto nem sempre corre de acordo com o previsto...
...o Valentim lembrou-se de levar a vaca brava da garraiada… e como isso aconteceu depois de passar pela roulote dos coiratos do Abílio e de ter bebido umas 2 minis fresquinhas e um shot verde-alface a deitar fumo, acabou por, demasiado entusiasmado como quase golo que marcou, se enrolar na corda com que a trazia presa e, agarrado à bichinha, que acelerou para fora dali, arrancou a pele ao ser arrastado pelos costados pela areia do campo da bola fora…
...Nada de fora do normal, naquelas paragens...
No final, o resultado do jogo ficou por… com o quase golo do Valentim…zero a zero, e como acabou assim a modos que antes do previsto devido ao incidente do Valentim com a vaca, como de resto já era habitual em todos os ajuntamentos que se realizam na Cadriceira, debandou tudo para a roulote do Abílio, onde a sua prima Giséla Sóraia se entretia agora a fazer equilibrismo com os pratos e os seus avantajados apêndices mamários como vira fazer num circo chinês, na televisão, depois de ter comido um Calipo de limão adoptando as poses da Alexandra Lencastre na Caras da semana passada enquanto, ao mesmo tempo, assava bifanas, teclados e entremeada.…o que levara o Padre Tóm Cruije ao desvario, e que o fizera mandar o António Luís para a rua com um vermelho directo aos 34 minutos da primeira parte, apesar de este já não tocar na bola desde que tinha 12 anos de idade…