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O estranho caso das prioridades desnorteadas.

A Pitazita cá do sítio, por mor de ter sido promovida a responsável do tal sistema informático que está a dar cabo dos nervos a toda a gente, queixou-se, há umas semanas, de que não podia ter o mesmo nível de chamadas que os coleguitas, e que devia mas era de ter menos doidos que aturar.

Surpreendentemente, a supervisão também achou que era boa ideia.

Vamos fazer de conta que o detalhe de um dos supervisores ser namorado dela é irrelevante.

Claro que com tanto tempo livre durante o dia, o que é que a desgraçada se entretinha a fazer?

A telefonar para a mãe, para saber se o cão tinha comido tudo e se tinha cagado bem na rua, a telefonar para os colegas do fundo da sala para meter a conversa em dia e combinar as horas do café, a dar ordens aos colegas que estavam a dar ao litro e a apontar as falhas de toda a gente e mais alguma.

Para mal dos pecados dela, veio recambiado do lado de Espanha um colega que é um bocado speedado e que tem também a mania que só ele é que sabe fazer as coisas.

Na verdade, o sistema informático de Espanha é mais rápido e funcional do que o de Portugal, o que ajuda um bocado à sanidade das pessoas.

Ora este colega teve a brilhante ideia de andar a massacrar os chefes com as estatísticas e com os níveis de serviço e com o diabo a quatro, motivo pelo qual, esta semana, fomos presenteados com um mail da supervisão com os nossos valores.

Adivinhem quem ficou em último lugar - tipo, mesmo lá no fundo - e foi correr à supervisão queixar-se que queria uma prioridade de chamadas mais alta?


1.11



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