quarta-feira, 30 de julho de 2025

Odisseia do Tacho 2006 - CAPÍTULO 13 – Afinal este botão servia para quê?

 

O dia amanheceu finalmente solarengo e ameno, depois de umas longas semanas de vento frio e de chuva.
O sol brilhava suave por entre as folhas novas dos plátanos, os pardais e as andorinhas andavam num alegre rodopio, e até o Pato Jeremias resolvera sair da sua concha para vir apanhar um bocadinho de calor, esticar as asas e, quem sabe, petiscar as tostas com doce de morango do costume.
O calendário marcava o 13.
Sim, era um dia perfeito!

A propósito, este é o último capítulo.
Assim, os assíduos leitores deste blog terão pelo menos algum interesse ou, quem sabe, uma certa curiosidade ou, no mínimo, uma ligeira comichão para saber como isto “acaba”.
Não um “acabar” definitivo, como o das novelas da TVI, em que só no último capítulo se descobre quem matou o António, e tem de vir a cassete lá não sei de onde de helicóptero, e com mais aparato policial que o próprio Primeiro-Ministro.
Este é um “acabar” daqueles que pode ter continuação.
Se conseguir vender esta ideia à TVI, posso começar a ponderar a hipótese de deixar de gastar 2 € em Euromilhões cada vez que há jackpot e me lembro de ir registar o boletim.

Ora qual novela da TVI, a “Odisseia do Tacho” tem alguns finais previsíveis – como terminar toda a gente na Festa da Caldeirada da Maria Odete a comer e à porrada – e outros… que nem por isso…
Pronto, para ser simpática, também começa com uma festa!
Como não poderia deixar de ser, o casamento do Xavi Fuentes, já esquecido da Joaninha, com a Maira Casimiro, filha do Xico, o Psicopata, e afilhada da Ti Faustina, o que quer dizer que… sim, a velha senhora lá está no altar, com o traje duro e melancólico das viúvas portuguesas, sentada no seu banco de três pernas, a dar com a sua fiel bengala nas canelas do Espanhol…
Há uma diferença, porém. A Ti Faustina aderiu à moda da maquilhagem… mas não foi ainda essa a razão para a fazer tirar o buço do queixo…
Como se não bastasse esta tormenta, já o pobre Espanhol vai bem enfeitado… com o olho direito negro – ok, estou a ser branda… o olho está completamente fechado, de tão inchado… - 3 arranhadelas no lado esquerdo do pescoço, e um ligeiro coxear. As marcas do Amor…
Ao olhar com mais atenção para os convidados que limpam as lágrimas à chegada da noiva, podemos ver quem ficou com quem, que é o que se quer saber num final.
Também temos uma preferência pela forma trágica como se lixa o mau da fita, mas aqui não temos desses gajos, pelo que ficamos mesmo pelos casaizitos…
A Joaninha fica com a Marilice Esteticista.
A Marilice Esteticista é a prima do Espanhol, que veio para a ocasião, e que se reencontrou com o seu grande amor – sim, a Joaninha.
Abrem o Cabeleireiro Marilice, onde a Marilice vai colocar em prática as técnicas ancestrais de arrancar os pêlos do buço com cera quente, que aprendeu no Oriente profundo, num cabeleireiro ali para os lados de Sacavém. A Joaninha fica radiante, uma vez que não esqueceu o Bruno e ele até achou giro alinhar na rambóia.
Ao lado delas, temos o R.J., o Fanhoso, que lá se acabou por ajeitar com o Índio George, e descobriu que há mais da vida para desfrutar.
Mais atrás, o António Luís e a Débora – ele percebeu finalmente que a Débora, afinal, até é uma moça jeitosa para se levar para casa: sabe cozinhar, lavar as escadas, desentupir a pia, e ainda fazer uns biscates no carro e abrir frascos, coisa que, às vezes, lhe dava cabo da paciência, porque ele era um bocado fraco de braços, só era pena o seu buço anormalmente desenvolvido…
O Valentim, por vezes, também se junta a eles e, nos dias bons, também a Maria Odete, que revela ali mesmo que se tornou vidente depois de ver um porco numa motorizada, num ano em que foi à concentração de Faro.
O Ricardão da Oficina não veio ao casamento. Agarrou na garrafa de hélio, na ambulância e arrancou direito ao Alentejo perdido para tentar encontrar ovnis.
O Júlio Cangalheiro lá apareceu, vindo directamente do aeroporto, com as suas assistentes Jaciara, Márilin e Ivenka, mas desta vez lixou-se, porque teve de as partilhar com o Guarda Arnaldo (sempre debaixo dos olhos dos seus adorados pais, o Guarda Januário e a Sra. D. Maria dos Prazeres), e com o seu primo Marco dos Correios. Outros que não se vêm aqui são o Cláudio, o Gótico, a Giséla Sóraia, a Odete Maria e o Óscar, o Padeiro, que estão enfiados no confessionário a jogar Mikado. É que a Giséla lá descobriu um encanto qualquer no Cláudio, e a Odete Maria descobriu um extracto da conta bancária do Padeiro…
Depois do terno “Sim” dado pelos noivos, passa-se ao “Vamos lá mas é para a festa!” habitual.
O Valentim insiste em que se faça uma corrida de bicicletas, pelo que quem tem bicicleta lá se junta.
O Bruno ganha a corrida, porque ia de lambreta, e o Valentim, de acordo com a noiva, que percebe disso, “está livre de perigo, mas fora da corrida após colisão com a árvore”.

FIM

Mais ou menos…


segunda-feira, 21 de julho de 2025

Odisseia do Tacho 2006 - CAPÍTULO 12 – QUEM NASCE PARA LAGARTIXA, PODE REALMENTE METER UM CROCODILO NOS EIXOS

Ao longe, no ambiente aconchegante da cozinha centenária da casa, um rádio a pilhas em cima do balcão captava numa estação mais clássica e pacata um êxito do Tony de Matos.
Com um sorriso saudoso, olhando as violetas no canteiro, a Ti Faustina recordava os dias em que… bem, não era tão velha e perra, e em que os bicos de papagaio não a obrigavam a dizer mais palavrões do que o seu afilhado Xico, o psicopata da Cadriceira, nos dias bons. Nos dias maus, ele preferia arranjar maneira de enterrar alguma coisa no seu terreno…
Num breve momento de distracção, e também devido a não ver a ponta de um corno à frente do nariz, acaba por acertar com uma basta quantidade de água do regador no Tareco, que estava no degrau do quintal a apanhar um pouco de sol nestes dias frios.
Tareco não se faz rogado e recolhe às proximidades da lareira da cozinha, onde a Ti Faustina assa dois chouriços para o seu lanche, ainda do stock da Mulher dos Chouriços, de quem enviuvou o Homem do Talho há uns meses atrás.
Bem… faz-se só um pouco rogado, porque se ouriçou todo, lançou um par de bufos relativamente expressivos e largou a correr para dentro da cozinha com as unhas de fora.
A Ti Faustina tinha muito em que pensar hoje. Ia ter uma visita! A sua afilhada Maira Casimiro, filha única do seu afilhado Xico, que trabalhava no Vaticano, e que há longos anos não vinha à terra.
A Ti Faustina ainda se recordava da pequenita Maira, que ajudara a criar, de olhinhos perspicazes, compleição concentrada e língua entre os dentes enquanto fazia uma autópsia caseira a uma ratazana que trouxera do celeiro, apesar de já saber que a causa da morte tinha sido uma pedrada certeira lançada pela própria Maira… E quantas vezes não tinha contribuído com bisturis e gazuas para a sua cândida colecção de materiais de experiências… Ah, muito sossegada era aquela pequena, e silenciosa: nunca lhe dera muito trabalho.
Estava a Ti Faustina sentada no degrau, ao sol, embrenhada nas suas cogitações de pessoa muito muito idosa, quando se recorda o Tareco de fazer das suas – e lá passa ele a correr esbaforido, todo eriçado e com o pêlo a arder, vindo da cozinha, onde estivera à beira do borralho a tentar acabar a sua sesta.
“Raios partam mais’ó gato, já chamuscou o pêlo outra vez!” – pensa – “É bom que não me tenhas ido aos chouriços, senão faço de ti uma farinheira!” – grita para o quintal a Ti Faustina, levantando-se e dirigindo-se com vagar para dentro, apoiada pela bengala que já tinha sido da sua avó, Ti Balbina, enquanto a Fernanda Maria acaba o seu fado no rádio, e uma ambulância passa a alta velocidade ao portão.
Ao chegar à porta fechada da sua própria oficina, o Ricardão suspira, conformado. Sai da ambulância, que conduz em part-time, porque assim tem uma desculpa viável para meter uma abaixo e acelerar no vermelho, ou fazer as rotundas em sentido contrário, e agarra na garrafa de oxigénio, dirigindo-se à vítima de mais uma fatalidade, caída lá dentro: o António Luís...
Aproveitando o turno de serviço do Ricardão, o António Luís agarrara na Famel Zundapp do Guarda Januário, sem saber que esta estava alterada, e que tinha sido apetrechada com um escape de rendimento Marshall, e entretém-se a fazer ratters e a acelerar às voltas dentro da oficina, com a porta fechada por causa do barulho(???)...
Eventualmente, caiu para o lado, completamente intoxicado, daí o Ricardão estar agora a ministrar-lhe vigorosas doses de... oxigénio?...
Oh não, saindo à pressa, o Ricardão trocou a garrafa de oxigénio da ambulância... pela garrafa de hélio de encher os balões para o arraial!
Estava o caso mal parado, não fosse a miraculosa coincidência de ir a passar naquela altura à porta uma figura ríspida e direita como se tivesse engolido um pau de vassoura, de óculos de sol e vestida de negro, a austeridade e a rigidez em forma humana, que se apresentou com o seu cartão – “Maira Casimiro – Advogada do Diabo” – e que deu uma valente biqueirada na canela do António Luís, dizendo: “Este está curado. Vê lá se deixas as alucinações!”, ao que o António Luís singelamente respondeu:”Aaaaaaaiiii!”
Passada a tormenta, e já recomposto do trauma sofrido, logo quis António Luís apresentar a sua nova amiga aos restantes frequentadores da Sociedade Recreativa, aproveitando para ir visitar a sua musa Maria Odete, que hoje estava em dia de alheiras no forno com batatinhas a murro e que, se estivesse de bom humor, era capaz de lhe dobrar a dose de rancho, em vez da espinha, como era mais habitual.
Ora não era só o António Luís que estava a par da ementa do dia na Sociedade Recreativa, pelo que, quando lá chegou, já o Espanhol tinha aviado duas travessas daquilo, e estava, com as bochechas, o nariz e a testa completamente lambuzados, o botão das calças aberto e uma toalha de mesa com ilustrações de melancias ao pescoço a fazer de guardanapo, a limpar o resto do azeite com grandes bocados de pão caseiro, directamente da travessa já vazia.
Para piorar, lançou um monumental arroto à entrada de António Luís e de Maira Casimiro em cena....
Pois têm os assíduos leitores deste blog de ver que isto não são preparos para se apresentar a uma senhora. Não é maneira, sequer, de deixar uma boa impressão.
Mas como para estes lados, tudo corre em sentido contrário...
...foi precisamente isso que aconteceu...
Maira, perplexa e completamente apanhada de surpresa, tira lentamente os óculos para poder observar aquela pérola da natureza, enquanto o seu queixo se descai levemente, não conseguindo, no entanto, ocultar um subtil sorriso de agrado que se soubera desenhar nos seus lábios carnudos.
Xavi Fuentes limitara-se a ficar estático, não conseguindo retirar o olhar daquela beleza exótica que lhe aparecera de repente na vida. Lembrou-se então das palavras da vidente Maria Odete, há umas semanas atrás: “O Amor surgirá em breve!” (com eco...)
Bem, ainda era cedo para se pensar nessas coisas, mas lá que a cachopa era jeitosa...
Pensando isto, sorriu, limpou os beiços à toalha, arrancando-a masculamente do pescoço e, achando que não estava em condições de perder tempo, logo ali arrebanhou Maira e a beijou.
Ela deve ter pensado mais ou menos a mesma coisa, porque não fugiu. Também, comparada com o Espanhol, não tinha propriamente tamanho para isso.
Quem não se ficou pelos azeites foi uma das testemunhas deste encontro romântico e afectuoso de duas almas que se procuravam ardentemente: a Giséla Sóráia, que andava de olho na presa, isto é, no Espanhol, há já alguns dias, e num eufórico e saudável processo de galação.
Para além de ficar verdadeiramente chocada, uma vez que foi trocada, afinal, por uma amostra de gente – uma coisa baixinha, quase sem carnes, mais parecida com uma tábua de passar a ferro, mas que teve o condão de deixar o espanhol a ver tudo a andar à roda e com um sorriso parvo na cara.
“Bem, o melhor mesmo era lançar o anzol a outro peixe”, pensa, olhando pelo cantinho do olho para o Cláudio, o gótico, que estava lá no fundo a tentar descobrir com uma faca a razão pela qual a sua torrada não saia da torradeira ligada.
“Este caramelo aqui é de estouro!”, pensou Giséla.
No meio disto tudo, quem ficou a ganhar foi a Odete Maria, nomeadamente através da sua sex-shop “Paraseuparaíso”, que acabou de inaugurar a secção “mariquices para pessoas niquentas e os seus bichos de estimação parvos com'o c***”
É que a misteriosa Maira era detentora de uma ligeira perversão sado-maso... e isso precisa de alguns instrumentos específicos...Assim, ao assumir o seu súbito e assolapado romance, a Maira e o espanhol conseguem juntar o útil ao agradável: ela gosta de dar, ele gosta de levar... o casal perfeito!!





Odisseia do Tacho 2006 - CAPÍTULO 13 – Afinal este botão servia para quê?

  O dia amanheceu finalmente solarengo e ameno, depois de umas longas semanas de vento frio e de chuva. O sol brilhava suave por entre as fo...